Yoga

MÚTIPLAS DEFINIÇÕES E SURGIMENTO HISTÓRICO


O Yoga assemelha-se a um rio antigo, cheio de corredeiras, torvelinhos, meandros, afluentes e remansos, que se estende por um território vasto e pitoresco, marcado por diferentes acidentes geográficos. (FEUERSTEIN, 2006, p. 511).

De acordo com Santaella (2010) no ocidente, quando se ouve a palavra Yoga, ainda vem à mente de muitas pessoas aquelas posturas estranhas e quase impossíveis de revistas especializas, porém, em sua origem indiana, o Yoga não prima por malabarismos, sendo um sistema muito antigo tendo como maior objetivo acalmar a mente humana.

Etimologicamente a palavra yoga é proveniente da raiz sânscrita, yuj que, entre outros significados, refere-se a atrelar, unir, juntar, correlata do latim iugo, do português jungir, do inglês yoke (ELIADE, 1997).

Gulmini (2003) apresenta que a palavra yoga é um substantivo masculino de origem sânscrita. O sânscrito, língua da família indo-européia, floresceu na Índia antiga, na época do sânscrito védico, registrado nos quatro livros mais antigos da cultura sânscrita, os Vedas.

Packer (2008) apresenta que a origem histórica do Yoga remonta à tradição védica e sua base estrutural está alicerçada nos Quatro Vedas: Rg Veda, Sâma Veda, Atharva Veda e Yajur Veda.

Feuerstein (2006) apresenta o desenvolvimento histórico da Índia hindu em nove períodos, expressando-se em estilos culturais distintos os quais são medidos através de referências astronômicas que constam dos próprios Vedas, retratando ainda que, estas divisões não passam de uma aproximação:

a) Era pré-védica (6.500 – 4.500 a. C.) caracterizada pela descoberta de uma cidade chamada Mehrgarh pelos arqueólogos, datada e meados do sétimo milênio a. C.;

b) Era Védica (4.500 – 2.500 a. C.) definido pela criação e proeminência cultural da tradição de sabedoria que consubstanciou-se nos hinos dos quatro Vedas;

c) Era Brhamânica (2.500 – 1.500 a. C.) onde a classe sacerdotal transformou-se numa elite profissional, altamente especializada dominando a cultura e a religião védicas, originando na literatura dos Brâhmanas;

d) Era Pós-Védica ou Upanishádica (1.500 – 1.000 a. C.) marcado pelo surgimento dos Upanishads que introduziram o ideal de um ritual interno associado à renúncia às coisas do mundo;

e) Era Pré-Clássica ou Épica (1.000 – 100 a. C.) evidenciado pelo desenvolvimento pré-clássico do Yoga;

f) Era Clássica (100 a. C – 500 d. C.) Era de longa batalha entre as seis escolas clássicas da filosofia hindu pela supremacia intelectual, criação do Yoga-Sûtra de Patanjali e ainda cristalização do Budismo Mahayana originando um diálogo entre hindus e budistas;

g) Era Tântrica/Purânica (500 – 1.300 d. C.) Início da grande revolução cultural do Tantra, ou Tantrismo, representando impressionante resultado de muitos séculos de esforço em prol da criação de uma grande síntese filosófica e espiritual a partir de diversas escolas divergentes que existiam na época e ainda a criação de grandes compilações enciclopédicas chamadas Purânas, constituindo uma história sagrada em torno da qual se teceu uma teia de conhecimentos filosóficos, mitológicos e rituais;

h) Era Sectária (1.300 – 1.700 d. C.) época da redescoberta do princípio feminino na filosofia e na prática de Yoga por parte do movimento tântrico, marcado por um movimento de devoção religiosa culminando as aspirações monoteístas das grandes comunidades sectárias, em especial os Vaishnavas e os Shaivas, origem do nome Sectária;

i) Era Moderna (1.700 – Época Atual) época de fundação da Companhia das Índias Orientais e da Companhia Holandesa das Índias, resultando numa destruição progressiva do sistema de valores natural da Índia, mediante a introdução de um sistema educacional ocidentalizado e da monstruosa tecnologia modera, sendo marcado ainda por um promissor renascimento espiritual sob as formas do Yoga e o Vedânta junto ao ocidente como um fluxo constante da sabedoria hindu.

Para Feuerstein (2006) no sentido técnico, yoga refere-se ao conjunto enorme dos valores, atitudes, preceitos e técnicas espirituais que se desenvolveram na Índia no decurso de pelo menos cinco milênios. Podendo ser visto como o fundamento da antiga civilização indiana sendo, portanto, um nome genérico dos vários caminhos indianos de autotranscendência extática, ou de transmutação metódica da consciência até que esta se liberte do feitiço da personalidade egóica.

Segundo Gulmini (2002) o sânscrito conhecido atualmente tem sua origem através de um grande volume de textos acumulados pela cultura ao longo dos séculos, e representa a norma culta da língua falada pelo povo que se auto-intitulava arya, do qual na Índia antiga seria a norma ideal da língua como bem feito ou acabado, em oposição à designação dada aos linguajares populares prakrta (prácritos), que viriam a se tornar as várias línguas do norte da Índia.

O Yoga Sutra é a obra composta de todo o ensinamento do Yoga Clássico em 196 sûtras, abordando métodos e práticas que levam o praticante ao total domínio da mente, tendo como objetivo principal levar o aspirante ao estágio final que é a Auto-Realização, mediante o domínio das aflições humanas e total cessação das modificações mentais, codificada por Patanjali (200 a. C), como sendo o fruto das profundas investigações filosóficas do período áureo da tradição hindu. (PACKER, 2008).

Para Feuerstein (2006) o sistema de Patânjali foi reconhecido como um sistema filosófico ortodoxo hindu, sendo também uma referência ao procurar abordar o tema Yoga, afirmando ainda que, muito pouco se sabe sobre Patanjali, o compilador do Yoga.

Apesar do surgimento de diversas linhagens do Yoga na contemporaneidade, as sete escolas clássicas do Yoga citadas por Packer (2008, p. 25) são:

 Raja Yoga: o caminho do domínio da mente;
Karma Yoga: a caminho da ação;
Mantra Yoga: o caminho através dos sons e palavras de poder;
Bhakti Yoga: o caminho da devoção;
Jnana Yoga: o caminho do conhecimento;
Hatha Yoga: o caminho do esforço determinado; e
Kundalini Yoga: o caminho pelo equilíbrio das forças ocultas. 

E neste caminho os Princípios Universais que alicerçam a vida do Yogi são conhecidos como Yamas – (corresponde ao desenvolvimento de uma conduta moral e ética sadia, capaz de evitar toda e qualquer dor a quem quer que seja) e os Niyamas – (correspondendo aos aspectos internos que necessitam ser desenvolvidos na senda de retorno, o caminho à consciência), afirma Packer (2008).

A autora apresenta os yamas como:

a) Ahimsa – onde estabelece uma vida de benevolência e respeito por todas as forma de vida sem violência.

b) Satya –viver comprometido com a verdade;

c) Asteya – não cobiçar o que não lhe pertence;

d) Brahmacarya – vida simples com o domínio das energias corpóreas; e

e) Aparighaha – a não possessividade.

E nos Niyamas:

a) Sauca – pureza, intensificando os componentes de vibrações mais sutis no corpo e na mente;

b) Santosa – estado de contentamento;

c) Tapas – vigor interno produzido pelo auto-esforço;

d) Svâdhyâya – gloriosa visão da compreensão do Eu Real; e

e) Isvara-Pranidhâna –

Segundo Fernandes (1994) o yoga tem resistido aos séculos e seu objetivo é a educação integral do Ser, procurando atingir o perfeito desenvolvimento corpo-mente.

Segundo Silva (2005) a partir do século XIX, gurus indianos começaram a se notabilizar no ocidente difundindo o Yoga, influenciados pelas necessidades modernas, havendo o interesse de um público crescente por sessões praticas sucintas, contemplando algumas técnicas capazes de proporcionar benefícios específicos, tais como condicionamento físico, padrões estéticos e tratamento ou prevenção de problemas de saúde.

Packer (2008 p. 23) cita o que está escrito na Katha Upanisad:

 Quanto todos os sentidos estão imóveis, quando a mente está em repouso, quando o intelecto não treme-esse, dizem os sábios, é o estado mais elevado. Essa serenidade dos sentidos e da mente foi definida como Yoga. Aquele que a obtém liberta-se da ilusão. 

Esta possibilidade de exploração das práticas de Yoga de modo mais sucinto e pragmático levou a um interesse também crescente na sua aplicação como recurso terapêutico, bem como na sua compreensão em termos fisiológicos, sendo esta perspectiva fundamental para nossos propósitos.

Referências

ELIADE, M. Yoga: imortalidade e Liberdade. Trad. de Teresa de Barros Velloso. São Paulo: Palas Athena, 1997.
FEUERSTAIN, G. A Tradição do Yoga. Trad. de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Pensamento, 2006.
GULMINI, L. C. Estudos sobre o Yoga: as várias histórias do Yoga. São Paulo: CEPEUSP, p. 23-47, 2003.
GULMINI, L. C. O Yogasutra, de Patanjali – Tradução e análise da obra, à luz de seus fundamentos contextuais, intertextuais e linguisticos, Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2002.
PACKER, M. L. G. A senda do Yoga. Filosofia, prática e terapêutica. Brasília: Teosófica, 2008.
SANTAELLA, D. F. Efeitos do treinamento em técnica respiratória do Yoga sobre a função pulmonar, a variabilidade da freqüência cardíaca, a qualidade de vida, a qualidade de sono, e os sintomas de estresse de idosos saudáveis. Tese (Doutorado) Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2010.