Hatha yoga

O HATHA YOGA: TRANSFORMAÇÃO EM UM CORPO DIVINO


Ramacharaca (1973) traduz o hatha-yoga como sendo o ramo da Filosofia Yoga que trata do corpo físico, seu cuidado, bem-estar, saúde, força e tudo quanto tenda a manter o seu estado de saúde natural e normal de viver, fazendo com que o ser humano mantenha-se intimamente vinculado à natureza e às suas leis.

Segundo Packer (2008) o Hatha-Yoga está estrutura em alguns textos reconhecidos sendo, os de grande importância, o Hatha Yoga Prapidikâ compilado por Svâtmârâma contendo quatro capítulos que abordam os Asanas, Pranayamas, Mudra/Bandha e Samâdhi, e outro, o Gheranda Samhitã, sendo uma coletânia composta no século XVII que aborda a tradição do Hatha Yoga descrevendo 102 práticas yóguicas em sete capítulos contendo Asanas, Kriyas e Mudras.

Iyengar (2001) apresenta a tradução do termo hatha, onde o “Ha” significa sol, que é o sol do seu corpo, ou seja, sua alma; já “tha” significa lua, isto é, sua consciência e neste sentido o sol que há em nós, a nossa alma, nunca enfraquece, ao passo que a mente ou consciência, que tira da alma a sua energia, tem suas flutuações, modulações, estados de humor, altos e baixos, como as fases da lua.

Packer (2008) afirma que hatha referem-se às forças prânicas do corpo (prana e apana), o qual o equilíbrio dessas energias promove a saúde do organismo.

Feuerstein (2006) corrobora com esta colocação afirmando que a tecnologia psicoespiritual do Hatha-Yoga gira especialmente em torno do desenvolvimento do potencial do corpo, para que este seja capaz de suportar a força e o peso da realização transcendente e que suas disciplinas foram criadas para facultar a manifestação da Realidade suprema no corpo e na mente humanos e finitos.

Traduz ainda que Hatha-Yoga é uma obra de força vital intrínseca ao corpo e que esta é usada para a transcendência do ego.

Em seu livro Yoga para Nervosos, Hermógenes (2009) apresenta um depoimento do psiquiatra Dr. Alberto Lohmannn que declara os benefícios conquistados com a prática do Hatha Yoga:

 […] A prática do yoga significa, sem dúvida, uma valiosa medida de higiene mental, uma correta e auspiciosa maneira de viver: com mais saúde, harmonia, serenidade, com mais altruísmo, simplicidade, com mais amor e fraternidade.[…] (HERMÓGENES, 2009, p. 25) 

Há que ressaltar, que a abordagem mais influente no mundo ocidental conta com referencias literárias somente a partir do século X ou XI, enfocando as técnicas psicofísicas como instrumentos indispensáveis para se atingir um controle orgânico suficiente para chegar de forma mais rápida e consistente à perfeição na meditação, sem as interferências de um organismo desequilibrado, sendo esta a vida do Hatha Yoga, que requer do praticante uma determinação inquebrantável, bem como uma consagração total à prática, para através desta chegar aos seus objetivos últimos. (MICHAEL, 1976).

Gharote (1996) sugere que uma sequencia simplificada de Hatha Yoga deva incluir pelo menos uma postura para cada um dos quatro movimentos da coluna, a saber, flexão, extensão, rotação e inclinações laterais. Após as posturas, deve-se incluir a prática de inspirações e expirações controladas, seguida de técnica mental (meditativa), devendo trabalhar nesta ordem, respeitando todas as metodologias descritas, caracterizando a prática como sendo de Yoga.

Considera ainda que as posturas (âsanas) devem preceder o controle da respiração (prânâyâma), que precede as técnicas mentais ou de relaxamento, trazendo ainda que, mesmo uma prática curta como rotina diária, traz imensos benefícios psicofísicos.

Silva (2005) apresenta que ao longo dos séculos foram desenvolvidas metodologias distintas dentro da própria tradição do Hatha Yoga, dentre as quais notabilizam-se os sistemas de Goraksanâth, Svâtmârâma e Gheranda, que são diferentes do método de oito parte de Patânjali, caracterizando-se respectivamente como sistemas de seis, quatro e sete partes. Afirma ainda que cada sistema exclui algumas partes e apresenta novas técnicas, tais como as travas (bandha) e ações purificatórias (kriyas), mas todas estas abordagens tradicionais têm em comum a ênfase nas posturas (asanas), nas técnicas respiratórias (prânâyâma) e nas técnicas mentais (dharana, dhyana e samadi), assim ordenadas.

Packer (2008 p. 60) reforça esta idéia quando escreve que o Hatha Yoga é “um sistema de técnicas psicossomáticas minuciosamente elaboradas que servem como um instrumento para a transformação do corpo humano em um corpo divino” e dispõe de técnicas que criam um corpo forte e saudável, promovem o equilíbrio de todos os sistemas orgânicos, equilibram as polaridades energéticas e estabilizam a mente. Citando as técnicas que compõem este método, como:

a) Asanas (posturas psicofísicas).

Desikachar (2006) traduz asana como uma palavra derivada da raiz do sânscrito que significa ficar, ser, sentar ou estabelecer-se numa determinada posição, descreve ainda o asana com duas qualidades importantes:sthira (estabilidade e atenção) e skukha (habilidade de permanecer confortável numa postura) sendo que estas qualidades devem estar presentes em igual medida na prática das posturas e o indicativo de suas presenças é a possibilidade de entrar e sair da postura sentindo que permanecemos alertas e relaxados.

Através do asana, Fernandes (1994 pg. 35) afirma que “procura-se a firmeza e o bom desenvolvimento para tornar os membros ligeiros, flexíveis, assim como todo o corpo” trazendo como resultado o equilíbrio físico-mental do praticante.

Iyengar (2001) afirma que os asanas irrigam todas as células do corpo humano, uma a uma, nutrindo-o com um abudante suprimento de sangue.

b) Pranayamas (controle de energia vital através da respiração).

Hermógenes (2009) apresenta que o homem é o unico que, por causas patológicas ou deploráveis maus hábitos, às vezes respira pela boca o que causa inconvenientes físicos e prânicos como a insuficiênte alimentacão de ar nos pulmões além de estar mais sujeito às infecções por germes do ar e que Pranayamas é um exercício que permite o maior aproveitamento e canalização voluntária do prana (energía biopsíquica, princípio vital). Iyengar (2008) apresenta que pranayama é a ciência da respiração, o eixo em torno do qual gira a roda da vida.

Desikachar (2006) apresenta algumas regras para respiração e movimento que são: contraindo o corpo, expiramos, e expandindo, inspiramos com algumas exceções com objetivo de criar um efeito especial no asana, alterando seu padrão de respiração, sendo que é a respiração que inicia e termina o movimento, pois é através da duração da respiração que se determinará a velocidade do movimento.

Iyengar (2001) afirma que os pranayamas canalizam a energia.

c) Kriyas (técnicas de purificação).

 Denomina-se purificações que associadas as técnicas e práticas higiênicas comuns ao homem, promovem a limpeza necessária ao bem-estar, ao equilíbrio e à saúde. (HERMÓGENES, 2010 p. 219). 

Fernandes (1994) cita o Hatha-Yoga-Prapidika e o Gherandoa Samhita que fazem menção minunciosa sobre as limpezas – Kriya, que constitui-se de seis propósitos em questão de limpeza e higiene que são:
• Remover todas as doenças;
• Purificação ou limpeza da parte externa do corpo;
• Purificação ou limpeza dos órgãos internos;
• Prevenção de doenças;
• Longevidade; e
• Trabalho mental e espiritual.

d) Nidras (técnicas de relaxamento).

Chama-se relaxamento o estado oposto à tensão, isto é, a ausência de contrações e esforços, os reflexos se acalmam e é um remédio eficaz, afirma Hermógenes (2009).

e) Bandhas (controle muscular).

Desikachar (2006) afirma que os Bandha-s desempenham um papel importante nos processos de purificacao do yoga, tem seu significado como atar ou amarrar e quando executamos bloqueamos certas áreas do torso de um mudo particular, sendo os principais: jalandhara bandha, uddiyan bandha e mula bandha.

Feuerstein (2006) apresenta os bandhas como uma técnica especial usada no Hatha-Yoga para prender a força vital em certas partes do corpo.

Bandhas são contrações de órgãos e plexos nervosos, com a finalidade de massagear, estimular e regular as funções dos plexos nervosos conectados com o corpo. (PARKER, 2008).

f) Mudras (gestos reflexológicos).

Para Feuerstein (2006) representa um selo das mãos ou postura do corpo que, além de ter significado simbólico, conduz a energia vital do corpo de uma maneira específica, o qual estes selos são técnicas avancadas que chegam a fundir-se com as práticas meditativas, citando o autor do Hatha-Yoga-Prapîdikâ, Svâtmârâma, onde apresenta que os Mudras são apreciados por todos os adeptos e difíceis de realizar até mesmo para as divindades.

Fernandes (1994) afirma que as Mudra no Hatha-yoga são posições que fecham de modo inviolável o sopro no interior do corpo e que, de acordo com Hatha-Yoga Prapidika, sao destruidoras da Velhice e da Morte.

g) Mitahara (dieta moderada).

Packer (2008) afirma que o homem se torna aquilo em que pensa e a part’icula mais sútil do alimento forma a matéria mental, sendo desta forma, o alimento que ingerimos vai criando a nossa realidade mental e por meio desta vamos gerando os nossos hábitos, os quais vão fortalecendo o caráter e este por sua vez vai determinando a vida, momento a momento.

h) Dharana (meditação).

 Dharana retira o véu que reveste a inteligência, tornando-a aguda e cada vez mais sensível, para que possa agir como ponte entre a mente e os recessos da consciência (IYENGAR, 2001 p. 122). 

Desikachar (2006) conceitua Dharana como sustentar a concentração ou o foco de atençao numa direçao.

Para obter os benefícios das práticas de Yoga é necessário que o indivíduo apresente certo grau de segurança, de visao da realidade objetiva, para que não procure nestas práticas resultados mágicos que elas não podem dar. (HERMÓGENES, 2010).

Referências

DESIKACHAR, T. K. V. O Coração do Yoga. São Paulo: Jaboticaba, 2006.
FERNANDES, N. Yoga Terapia. O caminho da saúde física e mental. São Paulo: Ground, 1994
FEUERSTAIN, G. A Tradição do Yoga. Trad. de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Pensamento, 2006.
GHAROTE, M. L. Yoga Aplicada: da teoria à prática. São Paulo: Phorte, 1996.
HERMÓGENES, J. H. A. F. Yoga para Nervosos. 44ª ed. Rio de Janeiro: Nova Era, 2009.
HERMÓGENES, J. H. A. F. Autoperfeição com Hatha Yoga. 50 ª ed. Rio de Janeiro: Nova Era, 2010.
IYENGAR, B. K. S. A Arvore do Ioga. 4° ed. São Paulo: Globo, 2001.
IYENGAR, B. K. S. A Luz da Ioga. São Paulo: Cultrix, 2008.
MICHAEL, T. O Yoga. Trad. de Raul B. Pedrira Filho e Suzana J Cruz. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
PACKER, M. L. G. A senda do Yoga. Filosofia, prática e terapêutica. Brasília: Teosófica, 2008.
RAMACHARACA, Y. Hatha-Yoga ou filosofia yogue do bem-estar fisico. São Paulo: Pensamento, 1973.
SILVA, G. D. Efeitos do yoga com e sem a aplicação da massagem tui na em pacientes com fibromialgia. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: São Paulo, 2005.